Le nom
Giz, girar, gincana...
Leveza, levada, leitura…
Casa, mesa, asas...
O que há no meu nome que tem na
escola?
No portão, o círculo, o movimento, a
solidão...
Na rua, a desejada das gentes, a
deusa, a protetora...
Era bonita como o sol, e seu nome me
fazia lembrá-lo...
No primeiro dia na escola, a roupa de
aniversário
A claridade cegando meus olhos cheios
de lágrimas...
Por que me deixaram aqui?
Essas crianças são todas estranhas e
falam errado...que crianças bobas!.
A lembrança do livro lido pela minha
irmã
Será que devo dizer que já sei ler?
Por que há tantos meninos?
Acho que minha mãe foi má...
No silêncio das indagações, a
observação, o sorriso
“Então temos aluna nova? Como é seu
nome?”
A professora falou de um degrau
E eu, em minha pequenez, passei a
existir:
Gileusa!
De giz, girar, gincana... MAGIA!!!
A opção por enfatizar meu nome
justifica-se por uma das primeiras sensações que vivi na escola. Após sair de
casa para ir à creche, na qual já era matriculada, as monitoras optaram por me
levar também para a pré-escola, já que naquela época as duas coisas não
funcionavam juntas. Então, pela manhã fui para a creche, lugar bastante hostil
pra mim, pois eu sentia muita falta das minhas irmãs, e à tarde, as “tias” me
levaram junto com a turma que ia pra escola, devido à minha idade.
Lembro-me que foi um processo bem
assustador, pois eu achava que não deveria ir a nenhum lugar que minha mãe não
soubesse. Mas como a cidade era muito pequena e todos se conheciam, elas
optaram por me levar e depois pedir à minha mãe para regularizar a matrícula.
Quanta angústia! Fui muito contrariada porque não era minha mãe quem estava me
levando.
Já na escola, as crianças se
aglomeravam para esperar a professora. Apesar da presença de algumas crianças
que já conviviam comigo na creche, achei tudo muito estranho. Eles corriam,
brincavam e pareciam mais infantis do que eu. Fazia muito sol e ficamos um
tempo esperando a professora.
Quando ela chegou, ocorreu a primeira
experiência escolar muito marcante: a identificação. A professora era muito
bonita e sua presença era muito importante pra mim. Finalmente, me sentia
protegida e segura novamente. Num lance de olhar, ela já notou minha presença
no grupo. Para entrar na escola, havia um degrau e ela subiu nele, o que a
tornou ainda maior. Ela comentou minha presença e perguntou meu nome, e eu
respondi. Não me lembro de ter me identificado antes. Pela primeira vez eu
defendia sozinha a minha existência e significado no mundo. A pronúncia do meu
nome ressoa até hoje, como se fosse minha própria independência. Naquele
momento, comecei a construir minha identidade de aluna e meu lugar no coração
das pessoas, o que sempre foi muito importante pra mim.
Nesse instante, todo meu
entusiasmo pela leitura aflorou em mim, assim como muitos das personalidades
que deram seus depoimentos, costumo fazer até hoje a leitura de tudo que há
pela frente, chego a parar na rua para ler frases em muros. Encantei-me com o
relato de Marilena Chauí que afirma que o livro abre portas para um mundo novo,
foi exatamente o que aconteceu comigo na infância, morava no interior do Estado
de São Paulo e logo muito cedo fui introduzida no mundo da leitura que despertou
em mim um novo olhar e uma nova maneira de pensar, com “Marcelo, marmelo,
martelo e outras histórias” de Ruth Rocha, percebi que poderia criar palavras
novas e compreender o sentido da amizade com “A Turma do Pererê” de Ziraldo,
mas depois essa euforia por ler ficou um pouco adormecida porque fui crescendo
e a necessidade de trabalhar começou a pesar, s trabalhava na roça e estudava a
noite. Já na ensino médio, fui novamente levada por uma amiga a conhecer e amar
“Feliz ano velho” de Marcelo Rubens Paiva e “O mundo de Sofia” de Jostein
Gaarder, que desencadeou novamente a mesma paixão pela leitura, e
pretendo não mais me distanciar.
GILEUSA CARPANEZI
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