quinta-feira, 6 de junho de 2013

Le nom
 Giz, girar, gincana...
Leveza, levada, leitura…
Casa, mesa, asas...
 O que há no meu nome que tem na escola?
No portão, o círculo, o movimento, a solidão...
Na rua, a desejada das gentes, a deusa, a protetora...
Era bonita como o sol, e seu nome me fazia lembrá-lo...

No primeiro dia na escola, a roupa de aniversário
A claridade cegando meus olhos cheios de lágrimas...
Por que me deixaram aqui?
Essas crianças são todas estranhas e falam errado...que crianças bobas!.

A lembrança do livro lido pela minha irmã
Será que devo dizer que já sei ler?
Por que há tantos meninos?
Acho que minha mãe foi má...

No silêncio das indagações, a observação, o sorriso
“Então temos aluna nova? Como é seu nome?”
A professora falou de um degrau
E eu, em minha pequenez, passei a existir:
Gileusa!
De giz, girar, gincana... MAGIA!!!
A opção por enfatizar meu nome justifica-se por uma das primeiras sensações que vivi na escola. Após sair de casa para ir à creche, na qual já era matriculada, as monitoras optaram por me levar também para a pré-escola, já que naquela época as duas coisas não funcionavam juntas. Então, pela manhã fui para a creche, lugar bastante hostil pra mim, pois eu sentia muita falta das minhas irmãs, e à tarde, as “tias” me levaram junto com a turma que ia pra escola, devido à minha idade.
Lembro-me que foi um processo bem assustador, pois eu achava que não deveria ir a nenhum lugar que minha mãe não soubesse. Mas como a cidade era muito pequena e todos se conheciam, elas optaram por me levar e depois pedir à minha mãe para regularizar a matrícula. Quanta angústia! Fui muito contrariada porque não era minha mãe quem estava me levando.
Já na escola, as crianças se aglomeravam para esperar a professora. Apesar da presença de algumas crianças que já conviviam comigo na creche, achei tudo muito estranho. Eles corriam, brincavam e pareciam mais infantis do que eu. Fazia muito sol e ficamos um tempo esperando a professora.
Quando ela chegou, ocorreu a primeira experiência escolar muito marcante: a identificação. A professora era muito bonita e sua presença era muito importante pra mim. Finalmente, me sentia protegida e segura novamente. Num lance de olhar, ela já notou minha presença no grupo. Para entrar na escola, havia um degrau e ela subiu nele, o que a tornou ainda maior. Ela comentou minha presença e perguntou meu nome, e eu respondi. Não me lembro de ter me identificado antes. Pela primeira vez eu defendia sozinha a minha existência e significado no mundo. A pronúncia do meu nome ressoa até hoje, como se fosse minha própria independência. Naquele momento, comecei a construir minha identidade de aluna e meu lugar no coração das pessoas, o que sempre foi muito importante pra mim.
Nesse  instante, todo meu entusiasmo pela leitura aflorou em mim, assim como muitos das personalidades que deram seus depoimentos, costumo fazer até hoje a leitura de tudo que há pela frente, chego a parar na rua para ler frases em muros. Encantei-me com o relato de Marilena Chauí que afirma que o livro abre portas para um mundo novo, foi exatamente o que aconteceu comigo na infância, morava no interior do Estado de São Paulo e logo muito cedo fui introduzida no mundo da leitura que despertou em mim um novo olhar e uma nova maneira de pensar, com “Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias” de Ruth Rocha, percebi que poderia criar palavras novas e compreender o sentido da amizade com “A Turma do Pererê” de Ziraldo, mas depois essa euforia por ler ficou um pouco adormecida porque fui crescendo e a necessidade de trabalhar começou a pesar, s trabalhava na roça e estudava a noite. Já na ensino médio, fui novamente levada por uma amiga a conhecer e amar “Feliz ano velho” de Marcelo Rubens Paiva e “O mundo de Sofia” de Jostein Gaarder, que  desencadeou novamente a mesma paixão pela leitura, e pretendo não mais  me distanciar. 
                                                                GILEUSA CARPANEZI

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